Monday, November 2, 2009

Estranha forma de vida

Sentado à janela do meu quarto, vejo os flocos de neve a cair...

A chegada à Noruega parece ter ocorrido há uma eternidade, e outra eternidade parece ainda por passar.
As jornadas consecutivas passadas diante do computador fazem-me o cerebro definhar, encolher, numa nuvem de inactividade física que se apoderou do meu mundo, como que um microclima que me acompanha para onde quer que vá.

Suspiros atrás de suspiros, não consigo deixar de pensar no ódio crescente que... cresce sem parar, por esta pequena janela informática que, supostamente uma ferramenta para nos tornar livres, não mais faz do que aprisionar-nos nesta vida que não deixa de ser... algo patética.

Desenganem-se aqueles que pensam que sofro de depressão...
Eu sofro mesmo é de uma estranha forma de preguicite.

Sendo assumidamente preguiçoso, o engraçado é que aparentemente eu gosto de trabalhar a sério quando a ocasião chama.
Agora, passar o dia sentado em frente ao teclado, a olhar para esta janela brilhante, constantemente bombardeado por publicidades irritantes...
Sinceramente parece mais castigo do que trabalho.

O pior prisioneiro é aquele que está livre, e eu mais não sou do que um prisioneiro da minha liberdade de escolha.
Eu até queria mesmo era ser pescador...

Ao invés, armado em pseudo-engenheiro à procura de uma forma de educação que cada vez mais me parece supérflua, estou sentado à frente da minha janela.

Esta sim, real... mostra-me um Outono estranho, mas não menos bonito por isso.
Folhas castanhas misturadas com as verdes, gerações que se sobrepõem, neve que cai derretendo-se instantaneamente, estações que se sobropõem...

Assim se vai vivendo pela Noruega.

Um bem haja!

Friday, October 2, 2009

Algo de muito estranho...

Algo de muito estranho acabou de acontecer.

Estando na rua, enquanto admirava a minha companheira de sempre (a Lua-Cheia) e pensava… “Ora aí está a minha verdadeira esposa - o lado mais brilhante do lado mais escuro de cada jornada”, vejo uma estrela cadente.

O primeiro impulso de qualquer pessoa (pelo menos de qualquer pessoa que eu conheça) ao ver uma estrela cadente é o de pedir um desejo. E foi neste preciso momento que algo de estranho aconteceu.

Ao contemplar o céu estrelado nesta latitude nortenha, numa calma noite de Outono em que o frio faz lembrar uma noite de Inverno, nenhum desejo me veio à cabeça.

“Que eu possa acabar o mestrado com uma boa nota”, “que eu possa acabar o mestrado o mais rápido possível”… coisas assim do género. Coisas que qualquer estudante bem entende. A verdade é que estes não são desejos, mas sim vontades. Vontades que não dependem do poder mágico de uma estrela cadente… mas sim de mim próprio. Frustrado, volto À carga…

“Que se acabe a fome no Mundo?” não… “Que haja paz no Mundo?” também não me parece bem… mais uma vez, dificilmente desejos mas mais utopias, não dependentes do poder mágico de uma estrela cadente, mas da tempestuosa e imprevisível psicologia humana, aplicada não só aos indivíduos mas às massas.

Frustrado, continuo a olhar para o céu, sem que nenhum verdadeiro desejo me passe pela cabeça…

Ao menos o céu está bonito, e a minha companheira de sempre (bem, pelo menos de sempre a cada 27 dias) está lá no alto a rir para mim.

Alguém tem um desejo a pedir? Ao que parece eu tenho um crédito por queimar…

Thursday, September 10, 2009

Bem vindos de volta, parte 2

Alô alô, bem vindos de volta, mais uma vez!

Já perdi a conta às vezes que me sentei em frente ao pc, tentativa frustrada após tentativa frustrada de recomeçar este blog.
Não me sentindo particularmente inspirado, heis que vos transmito as novidades em tópicos:

- Noruega é fixe!
- Aas (supostamente com uma bolinha no primeiro "A" que lhe dá uma fonética engraçada, algo do tipo "Hós", mas com o "h" a ser dito do fundo da garganta, como se nos tivessemos a engasgar ou mesmo a puxar uma daquelas gosmas profundas e nojentas) é um vilarejo que faz lembrar as Gambelas
- Emendo - faria lembrar as Gambelas não fosse o elevado grau de asseadez (esta palavra existe?)
- A vida corre tranquilamente - 3 aulas por semana não é propriamente uma carga exaustiva
- Hoje tivemos feriado a uma das aulas!! Consecutivamente, a nossa carga horária caiu 33% ! VIVA!
- Estou a viver numa agradável casinha de madeira, rodeada de árvores altas e com um relvado verdejante esplendoroso. A alegria que é acordar com esta vista!
- Pensando bem, a alegria vem do Sol de verão que se faz sentir hoje, veremos como vai ser quando vier aquele tempo horrível...
- Agora que penso nisso, coitados dos meus colegas de casa quando isso acontecer...

E como não posso queimar os cartuchos todos logo neste primeiro post, há que guardar qualquer coisinha para os posts vindouros. Não me cheira que se vá passar muita coisa por aqui, e se ficar sem nada para falar no futuro talvez me vire para a política, o que transformaria este blog num espaço virtual irremediavelmente secante.

Sendo assim, por agora é tudo!
Saudações do cú-de-judas, este outro mais a leste

P.S. - Portugal ganhou à Hungria. 1-0 ... citando o comentador da RTP - " Impecável!!"
P.S. 2 - Ppppppffffffff..................

Monday, March 9, 2009

Chico esperto

Um bem haja a todos!

E neste post vou escrever sobre os tão famigerados "chico-espertos". Quem não o conhece? Quem não tem pelo menos um no seu circulo de amigos? Ora um.... se fosse só um não é? Aquelas personagens irritantes que se acham acima das regras...
Ora aqui pelo cú de judas também há uns quantos, e aqui vos deixo umas imagens sobre essas personagens.
É que ao que parece, eles não existem só entre os seres humanos...
Estas fotos que vos apresento são do lago da cidade, altamente congelado nesta altura do ano, como se pode comprovar.


Mas como aqui a malta é amiga dos animais, o pessoal decidiu despejr água quente num dos cantos do lago, com o objectivo de deixar uma parcela de água liquida para os coitadinhos dos patos poderem nadar e enfiar a cabeça debaixo de água e essas coisas que os patos fazem.


Mas os patos chico-espertos não se ficam pelo chapinhar na água... porque razão haviam eles de chapinhar na água fria e cercada pelo gelo, quando podem tomar um belo banho de imersão na nascente de água quente?

É assim meus amigos... há aqueles que não pagam impostos, há aqueles que não pagam as multas, há aqueles que não esperam nas filas, e há aqueles que se banham na fonte em vez de esperar pela sua vez...
E esta, hein?

Saturday, March 7, 2009

Viajando... O Regresso: Parte 1

Da mesma maneira que fui para Portugal de férias, o inevitável regresso à Islândia tinha de acontecer. Voltei no dia 8 de Janeiro, como sempre, demorei um dia inteiro a cá chegar e, como á hora a que chego já não consigo apanhar 1 voo para Isafjordur tive de ficar em casa do Kjell. No dia seguinte levantei-me cedo pois tinha voo marcado para as 9 da manhã e fui para o aeroporto. Já no aeroporto, aproxima-se a hora do voo e nada, não há ordem de embarque até que, passados cerca de 15 minutos das 9 os senhores avisam que o voo foi adiado devido ao mau tempo que se fazia sentir em Isafjordur, nada de anormal para a altura do ano. Como já estou habituado a estas andanças nem liguei e fui falando com os senhores do aeroporto para saber mais ou menos para quando estava previsto o voo, já que este está dependente dos "updates" horários das condições climatéricas. Fiquei a saber que iríamos em princípio voar por volta das 2 da tarde, apesar de um dos empregados do aeroporto me ter dito que era altamente improvável que o tempo melhorasse o suficiente para voar.
Como sempre lá fiquei no aeroporto á espera porque não me apetecia muito andar para trás e para a frente com bagagem, que até não era pouca e eu tinha de andar de autocarro porque não tinha dinheiro para táxis (já mal chegava para o autocarro).
Foram passando as horas e por volta das 2 da tarde lá se deu a ordem de embarque, o que me fez bastante feliz já que queria mesmo chegar a casa por razões óbvias e porque estava quase sem dinheiro, até para comer. Embarcámos e siga viagem.
Dormi o caminho todo até estarmos quase a chegar, acordando só com a hospedeira a dizer que íamos começar a descer em breve.. ora, afinal não era bem verdade porque não chegámos a descer. A visibilidade era péssima e o vento não ajudava, tendo o avião dado meia dúzia de voltas no céu acima de Isafjordur até que o comandante avisou que íamos voltar para trás.. a esta altura começo a rogar pragas (mentalmente é claro) porque já estava a pensar onde é que ía passar a noite, como é que ía comer e ía ter de andar a carregar bagagens de um lado para o outro, outra vez. Tão perto e tão longe, enfim, são coisas a que se está sujeito quando se viaja na Islândia em pleno Inverno.
Nessa noite consegui ficar na pousada, pagando o quarto com as últimas 2000 koroas que me sobravam no cartão islandês.
No dia seguinte, a mesma história, levantar cedo, arrastar bagagens até ao aeroporto ás 8 da manhã e esperar pela hora do voo que era na mesma por volta das 9. Surpresa das surpresas, 9 da manhã, voo adiado. Ah, maravilhoso, mais um dia passado no aeroporto.. sem dinheiro e sem perspectivas de conseguir voar mais uma vez. Desta vez o cenário era ainda pior que no dia anterior, já que não havia quase esperança nenhuma que o tempo melhorasse, mas pronto, a esperança é a última a morrer, já dizia o Paulo Bento, treinador desse "grande" clube que é o Sbording.
Idem aspas, dia no aeroporto, por volta das 4, ordem de embarque o que me surpreendeu bastante.
Embarcamos e seguimos viagem (outra vez).. e, novamente, dormi o caminho quase todo, acordando só quando começou a turbulência a chegar aos fiordes. Ora, esta turbulência começou de levezinho, e de tanto viajar nestes aviões (20, 30 vezes, já perdi a conta há muito) não é coisa que me surpreenda e até acho bastante piada.
Mas cedo se percebeu que esta turbulência não era normal quando o avião começa a abanar violentamente para os lados e a subir e descer acentuadamente, dando até aquela impressão esquisita no estômago de quando se anda de montanha russa. Já andei de montanha russa 2 ou 3 vezes e digo-vos que nenhuma delas foi tão intensa como a turbulência que senti nesta viagem. Normalmente a turbulência dura á volta de 2, 3 ou 5 minutos, no máximo. Desta vez foram entre 10 e 15 minutos de elevada turbulência, ao fim dos quais havia crianças a chorar, senhoras a rezar e muita gente com cara de mal disposto, incluindo eu que, se tivesse tido dinheiro para comer, teria vomitado o meu almoço, já que estive agarrado ao saco do enjoo a tentar regurgitar o "nada" que tinha no estômago, cheio de suores e branco como a cal da parede. Ao fim de tanto tempo de turbulência eu já só pensava que os pilotos tinham era de subir e voltar para trás, não queria ter de suportar mais tempo daquilo. E foi mesmo o que aconteceu, ao fim de algum tempo subimos e voltámos para trás, para o alívio de toda a gente que estava no avião. Esta viagem foi um trauma, e muita gente que eu conheço nunca mais entraria num avião.
Falei com um jovem que trabalha no mesmo sítio que eu e que também ía no avião, o Jón Paul e ele perguntou-me se a viagem tinha sido difícil, ao que eu respondi que nunca tinha visto nada assim. Ele disse-me que toda a sua vida tem voado para Isafjordur e nunca tinha tido uma viagem remotamente parecida. Eu não enjoo facilmente e ainda resisti bastante tempo, mas o constante agitar, as subidas e descidas repentinas que faziam pessoas dar berros daqueles de quem se assusta e não consegue conter as emoções (para que conste eu não dei nenhum gritinho histérico, mas estava seriamente assustado).
E pronto, lá voltámos para trás novamente, o que, apesar de me encontrar sem dinheiro e 30 kilos de bagagem para carregar foi a melhor coisa que me aconteceu nos últimos 3 dias.
Não percam o próximo episódio desta viagem, porque ainda não acabou, já que foi definitivamente a viagem mais atribulada que tive. :)

Filipe Figueiredo