Thursday, October 16, 2008

crises à parte

Olá meus amigos, cá estou eu de novo. Como já devem ter reparado esta temporada bloguista segue com certos e determinados precalços, qual percurso de qualificação da selecção nacional para o mundial de futebol (reparem como já sei escrever "futebol" apropriadamente - obrigado pelos "puxões de orelhas" que me deram).

Isto pela omnipresente preguicite aguda que se instala no meu ser, não fosse eu português (os meus genes suecos não ajudam muito contra esta doença).

Vou tentar não me prolongar sobre a crise, mas não posso deixar de dizer umas palavrinhas sobre o assunto - tinha saudades.
Tinha umas certas saudades de viver num país em que não se falasse de crise, lá está, não viesse eu de Portugal. Viver um ano no cú-de-judas e não ter de contar nem uma vez os tostões estava-me a fazer confusão. Não ter de fazer planos adiantados porque não se avizinhavam nuvens escuras à frente não fazia parte do meu estilo de vida, e agora continua a não fazer.
Porém, tenho de salientar uma questão, que estranhamente ainda ninguém comentou - sim, a Islândia está na bancarrota, esta malta agora vai sobreviver da pesca e do cultivo de batatas tal como há umas décadas atrás... mas e se o Benfica tivesse perdido com o Nápoles? E se o novíssimo canal de televisão do glorioso ficásse sem jogos para transmitir durante o resto da época? Como é que seria a nossa vida? Porque aí não haveria pesca nem batatas que nos salvásse....

Pensem nisto.

E agora noutro campo completamente diferente, uma breve descrição do nosso futuro próximo pelas terras cu-de-judenses.

Dentro em breve iniciaremos a parte teórica do nosso mestrado. Aulinhas, festas académicas (esperamos nós), noites mal dormidas, ressacas mal curadas, apresentações por fazer, apresentações por apresentar... enfim, toda uma panóplia de benesses que só a vida académica proporciona e que nos fugiu por entre os dedos à coisa de um ano e pouco.
Para tal efeito vamo-nos deslocar ao norte do cu-de-judas, a uma terra chamada Hólar, com (talvez?) uma população residente de centena e meia de pessoas.

Espero bem que por lá não haja internet, para no próximo post a desculpa não ser a preguicite, mas a falta de meios... hehehe

Entretanto, mais um dia de chuva no cú-de-judas. Ontem fez sol o dia todo, talvez um dos 7 dias do ano em que isso acontece, e para um gajo não ficar mal habituado hoje já caiem cargas de água. Viva o cú de judas, por mais crises que o atinjam, quedas de água naturais nunca lhe hão-de faltar!

Um abraço e até à próxima

Kjell H.

Tuesday, October 7, 2008

A crise, AI A CRISE!

Pois é, meus amigos, a Islândia (o mundo?) está em crise.. bancos falidos, racionamento de dinheiro, estado enterrado em empréstimos que não pode pagar, islandeses sem poder para pagar os seus próprios empréstimos, gente a vender casa, carro...pânico, muito pânico, declarações diárias do primeiro ministro a dizer que a coisa não está facil e que ainda vai piorar.. a coroa islandesa que já não vale um tostão furado! Que bem que me soa agora trabalhar em Portugal (que muita gente diz que está invulgarmente estável economicamente), mesmo com Josés Sócrates e Manuelas Ferreiras Leite, políticos de brincadeira, Apitos Dourados, tiroteios em Quintas da Fonte, tiroteios fora de Quintas da Fonte, multibancos e bombas de gasolina assaltados, brasileiros a fazerem reféns á mão armada, Benficas que não ganham campeonatos, chulos, chupistas e alguma (??) corrupção. É assim, a galinha da vizinha é sempre melhor que a minha, mas desengane-se quem pensa que Portugal é um país muito mau para se viver.. ao menos tem sol, praia e cerveja barata.

Filipe Figueiredo

Um dia de merda, ou talvez não...

Acordei ás 8, meti o despertador para as 8.30 (como muitas vezes faço) só para poder estar mais 30 minutos no quente, a pensar que não me apetece mesmo nada levantar e levar com vento e chuva.. Por acaso não acordei rabugento, levantei-me de "boa" vontade e preparei-me para sair juntamente com o Jorge.

Saímos de casa e eu imediatamente comento com o dito cujo "Eh pá, céu azul!" - que nunca é muito azul porque tem sempre as ditas nuvens ameaçadoramente cinzentas - ao que ele responde "Não sejas muito optimista".. mas eu não liguei (tento ser optimista) e continuámos o caminho para o autocarro, como noutros tantos dias. Chegados á paragem já estava uma ventania desmarcada, fenómeno bastante típico na Islândia, esse país tropical onde abunda o sol e as temperaturas amenas.
A esta altura o meu optimismo em relação ao bom tempo estaria já a esmorecer, mas como eu gosto bastante de vento até que não me importei e lá entrámos no autocarro direitos ao laboratório. Chegados ao destino, saímos do autocarro só para sentir que estava a começar a chover (acabou-se o optimismo), mas pronto, lá tivemos de nos fazer ao caminho, porque quem tem medo de andar á chuva certamente não poderá morar na Islândia, muito menos em Reykjavik.. continuando a andar, passamos pelo multibanco e eu digo ao Kjell que tenho de ir levantar o dinheiro da renda, ao que ele me responde que tratamos disso á vinda.

Ora,não querendo eu adiar, porque costumamos vir atrasados para o autocarro, disse-lhe que fosse andando que eu já ía ter ao laboratório e vou ao multibanco sozinho.. á medida que me aproximava só me ocorria um pensamento: "quando eu estiver ir para baixo vai de certeza começar a chover a sério" (começa a entrar o pessimismo).
Entro no multibanco, uma ex-sucursal do meu banco que se encontra fechada (é a crise!) e só lá tem mesmo a dita máquina, meto o cartão, marco o código e insiro a quantia que quero levantar; 30.000 Coroas Islandesas que, ao câmbio actual serão por volta de 150 Euros (já valeu o dobro). Não me lembro bem como funciona em Portugal, mas aqui sai o talão primeiro, o cartão a seguir e finalmente o dinheiro.. Ora, sai o talão, o cartão, ouço a máquina a contar o dinheiro e puff, aparece-me um ponto de exclamação e o seguinte texto: "Upp er komin bilun í vélbúnadi". A este ponto eu fiquei com aquela do "ENTÃO CAR****? O DINHEIRO?", carreguei nas teclas a ver se havia resposta da máquina e.. nada! Agarrei no telemóvel e telefonei para um número que estava colado no vidro, que supostamente seria da empresa dos cartões.. comecei a falar com o senhor, disse-lhe o que se passava, ele pediu-me o meu número de identificação (kennitala) só para me dizer que não tinha acesso ao meu cartão, pois este era de débito. Entretanto a chamada cai, tinha ficado sem dinheiro.. queria mandar uma mensagem ao Kjell para me carregar o telemóvel e nem isso podia fazer.. já estava a entrar em pânico (acabou-se toda e qualquer réstia de optimismo que poderia ter e começo a ficar desesperadamente pessimista), e não queria sair dali pois não sabia o que ía acontecer, não fosse aquilo começar a funcionar outra vez e "cuspir" o meu dinheiro para algum islândes ganhar ali o dia. Copiei o texto que estava escrito no ecrã e apressei-me a ir á bomba de gasolina mesmo ali ao lado perguntar a alguém o que queria dizer, ao que me responderam que dizia qualquer coisa como "dificuldades técnicas".

Quando voltei ao multibanco a coisa estava a reiniciar, tal qual o computador de casa quando lhe dá uma paragem cerebral e a gente tem de fazer o reset.. mas depois disso voltou exactamente á mesma coisa. Decidi que não podia ficar o dia inteiro ao pé do multibanco e apressei-me a ir para o laboratório para poder carregar o telefone e verificar se efectivamente o dinheiro tinha sido descontado da minha conta.. e não é que quando saio do multibanco directo ao laboratório estava MESMO a chover.. oh, happy days, happy days.. será que podia ficar pior? Chego ao laboratório, molhado, mal humorado e com vontade de matar alguém, peço ao Kjell para usar o computador e "checar" a minha conta, só para ver que me tinham mesmo descontado o dinheiro (a esta altura já só me saíam as 3 palavras, "filhos da p***"). O Kjell dizia-me, "telefona para a polícia" e eu só queria tentar telefonar para o banco para esclarecer a situação.. Encontrei um telefone, telefonei, ninguém atendeu.. telefonei outra vez, ninguém atendeu, repetindo este ritual mais 4 ou 5 vezes, fartei-me e pensei que tinha de voltar para perto do multibanco e continuava a telefonar de lá. Voltei a correr para cima, sempre a tentar telefonar para o banco, sempre com a mesma resposta, NADA.

Chegado novamente ao multibanco telefono para a empresa dos cartões, onde uma senhora me diz que realmente não pode fazer nada mas aconselha-me a guardar o talão e a ir a uma sucursal do banco para expôr a minha situação. Após tentar telefonar mais 10 vezes para o banco volto para o laboratório, sempre a praguejar pelo caminho, pois estava a ter um dia em cheio e ainda nem eram 11 da manhã! Já ía a pensar pelo caminho que ía ter de perguntar a alguém onde ficava uma sucursal do banco e que tinha de me ir embora, apanhar o autocarro e levar com um filme de ter de explicar a situação a uma qualquer empregada do banco que iria pensar que eu os estava a tentar intrujar (uma pessoa faz com cada filme.. pelo menos eu faço).

Depois de voltar para o laboratório entro na cozinha para beber água e a cozinheira vem falar comigo, a perguntar o que se tinha passado.. eu explico-lhe a situação e ela oferece-se logo para me emprestar o carro para ir tratar do meu assunto, ficando eu meio embasbacado sem saber o que lhe dizer, pois não é grande costume islandês emprestar o carro a um semi-desconhecido mas esta cozinheira é o que eu chamo de uma "granda bacana" e definitivamente que não tem um carácter tipicamente islandês. Obviamente que recruto o Kjell para vir comigo, ao que ele resmunga que era agora mesmo que ía trabalhar e que isto só podia ser um sinal de Deus que o estava a impedir de trabalhar, e pomo-nos a caminho no Suzuki Swift de mudanças automáticas (que coisa mais estranha conduzir com mudanças automáticas!!!). A esta altura o George pergunta-me se eu estava muito nervosinho e eu começo a pensar que já tinha estado pior, que podia ser que tudo se resolve-se por bem, sem mais percalços..

A partir daqui já pouco interessa, porque foi chegar ao banco, falar com uma senhora que me pediu o talão e confirmou que efectivamente eu tinha tentado fazer o levantamento mas não recebi o dinheiro e que, quando as máquinas fizerem a actualização o mais provável é que o dinheiro seja repositado na minha conta o que, se não acontecer, terá de ser feito por ela amanhã se eu lhe telefonar a dizer que ainda estou em falta de 30.000 Coroas.
Quanto ao telefonar para o banco vezes sem conta sem ninguém atender...bem, é o que dá estar em crise.. ou não se tem mãos a medir, ou então simplesmente ignora-se as pessoas por não haver solução para tanto problema.

Enfim, tudo resolvido, espero eu.. estou de volta ao laboratório, o tempo abriu, está sol, o céu azul e ainda recebi a notícia de que os Correios cá do sítio me estão a dever dinheiro (e esta hein?) e me vão depositar a quantia de imediato! Um pequeno pormenor.. quando estávamos de volta ao laboratório, entro na cozinha para dar a chave á grande bacana que é a cozinheira e deparo-me com um cenário nada habitual que era toda a gente do laboratório sentada a olhar muito seriamente para a televisão, fazendo-me comentar com o Ragnar, "o mundo vai acabar?", ao que ele me responde "não, só a Islândia!". Por isso, a todos aqueles que pensam que a crise é em Portugal, que somos todos uns pobres coitados que não temos um chavo para mandar cantar um cego, pensem duas vezes, pois há gente bem pior que nós, só que eles não se queixam tanto!

Hoje já fiz filmes e filmes, que ía ficar sem o dinheiro, entrar em lítigios com o banco, processos em tribunal, recorrer ás imagens do multibanco, até furar os pneus do carro a algum dirigente da instituição.. devo ter ganho uns poucos de cabelos brancos só com esta brincadeira, além de só poder começar a trabalhar da parte da tarde, o que me vai fazer ficar aqui até tarde, mas pronto, há que ser optimista e pensar que tudo vai correr bem.
Ainda assim parece-me que, para um dia de merda, já tive dias bem piores...mas ainda só vai a meio! :)
Beijinhos e abraços d'O Exilado em Reykjavik,

Filipe Figueiredo