Pessoas saudáveis, jogging e realização pessoal...

12 de janeiro do não tão novo ano de 2009, 22:37
Uma boa noite para voces.
Retornado da boa vida que se vive na costa ibérica, de novo por terras cu-de-judenses.
Hora do cigarrinho da deita, divirto-me a contar as pessoas que com ar algo anedótico praticam a arte do jogging.
Atenção, não digo isto com ar de gozo, porque no cú-de-judas praticar jogging é definitivamente uma arte. Não é para qualquer um percorrer passeios carregados de cristais de gelo, e é sem dúvida alguma preciso uma carga sobrehumana de coragem para passear em roupas ridiculamente coloridas...

Ora, isto de eu me divertir a ver os bonecos saudáveis que insistem em perturbar a minha "hora do cancro" não é nada de novo... às vezes, quando vejo um grupo maior, até faço questão de expirar uma espessa nuvem de fumo no timming perfeito em que eles vão a passar... (é giro ouvi-los tossir e olharem de lado para mim como se eu fosse o anticristo em pessoa)
Mas hoje passou-se algo diferente. Houve interacção entre estes dois grupos de pessoas, as saudáveis ("joggers") e as outras (eu).

De calça de pijama azul, pom-pom no topo da cabeça, chinelinho de quarto, lá me vou distraindo a observar os padrões de fumo, até que ao largo vejo duas cabeças loiras que se aproximam mais rápido do que um pedestre normal.
"Olha mais duas..." - não consigo deixar de pensar. Como até estou tranquilo e pouco aborrecido, nem me passa pela cabeça contaminar tão saudáveis e inocentes pulmões, mas heis que....

Ora, eu não ando por aí a apregoar as minhas ideias de fumador, quem quiser fumar que fume. A única coisa que eu peço em troca é que me deixem fumar na minha tranquilidade e que se metam na vossa vida... portanto, se eu quiser correr para me tornar saudável, eu sei como é que se mete um pé à frente do outro com mais velocidade, eu sei calçar sapatilhas e atar os atacadores, e sei tomar decisões, portanto, não me fodam o juízo....

Mas a boca teve de vir, e eu não me podia ficar. Aos pulinhos sem sair do mesmo sítio, aquelas caricatas amigas acharam por bem "apregoar" as suas ideologias e "salvar das garras do demo" mais um "perdido fumador".
Sem proferir qualquer som, repouso o cigarro no canto direito da boca... levo a mão direita ao bolso do casaco à medida que lanço os olhos para o canto superior direito das órbitas como se me concentrasse... ando meio desconchavado em direcção a elas, como que se lhes fosse mostrar algo que tivesse guardado, muito importante e secreto, e que só agora seria revelado... como agradecimento por tal acto de salvação.
Retiro a mão fechada do bolso, muito lentamente e com cuidado, sempre a olhar atentamente, como se nesta mão descansassem os maiores segredos do universo.

Muito me esforço para não me "mijar" a rir. A expectativa tinha dado lugar a uma face perfeitamente vazia, algo perdida. A outra prima, de olhos esbugalhados, insiste em olhar para mim como o anticristo, mas desta vez não pelo fumo.

Com o dedo do meio estendido, fazendo um belo e convicto pirete, a minha estática mão estaria a não mais de 2 cm de tão emproado nariz.

Não controlo a vontade de rir, da mesma maneira que as duas amigas não controlam a vontade de me mandarem à merda.
E pronto...

As amigas continuaram a correr. Eu vou continuar a fumar. Foi uma noite gira, e acredito que as duas facções experimentaram uma sensação de realização pessoal - elas porque continuaram a ser saudáveis, e eu porque fico sempre realizado quando consigo arrancar uma sincera gargalhada da minha própria pessoa.

Alguém me sabe dizer se eu tive uma atitute moralmente incorrecta ?

E assim me despeço...